Subsecretário de Ações Estratégicas da Casa Civil do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o APF, aposentado, Antônio Carlos dos Santos é a personalidade do mês no site do Sindicato

13 de novembro de 2020

Em foto, após a entrevista, sendo homenageado pelo SSDPFRJ, com a Medalha do Mérito Policial Federal por relevantes serviços prestados à sociedade

Para o Subsecretário de Ações Estratégicas da Casa Civil do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o APF, aposentado, Antônio Carlos dos Santos, 56 anos, tudo o que ele tem na vida foi graças à Polícia Federal. Após uma carreira de 29 anos finalizada em 2017, em que até fez a segurança do Papa João Paulo II, seu cargo hoje no Governo Estadual é o resultado de sua experiência em segurança pública, dos anos de estudo de direito econômico tributário e penal, certificados por títulos de pós-graduação e mestrado e do teste de fogo na direção financeira e na presidência do Detran no ano passado. Por ter demonstrado talento, hoje está à frente dos três maiores programas do Governo: a Operação Segurança Presente, a Lei Seca e a Marcha pela Cidadania e Ordem. Nesta entrevista, fala de sua vida profissional e revela que sobra pouco tempo para a família. Casado há 32 anos com a advogada Andrea, é pai do analista de sistemas Cadu, 25 e do empresário Felipe, 31 e avô coruja de Laura, 5.

SSDPFRJ: Qual o diferencial e a importância da Operação Segurança Presente?

ACS: O Rio é uma porta de entrada para o mundo, então, temos que ter um Estado forte na questão do turismo. Mas nada vai andar, se não houver segurança. Inauguramos a operação no Cristo Redentor. Isso é fundamental para o turismo. É um programa de complemento de segurança pública, onde conseguimos reduzir os índices de criminalidade em 70%. Em Copacabana, zeramos o índice de roubo de carros. Em Niterói, tivemos os índices mais baixos dos últimos 20 anos. Estamos em 19 bairros e 11 cidades. Nosso desejo é expandir para todos os bairros. Só que antes, vamos reestruturar toda a base, acertar o que tem que ser acertado financeiramente. Peguei o programa já muito grande. São mais de 3.000 agentes, entre policiais militares, civis e assistentes sociais. O projeto é importante nos moldes do que um dia foi a UPP. Hoje nós talvez tenhamos o melhor conceito junto à população em questão de política de segurança comunitária. Não é um programa só de caráter policial e repressivo. É polícia de proximidade. Não há confronto entre policiais e moradores. Temos assistentes sociais que são o principal atrativo do nosso programa. Atendemos muitos idosos. Os moradores de rua, que também são assistidos pelo programa, passam informações aos assistentes sociais, porque confiam e interagem com eles e os policiais. O mesmo PM, quando coloca o colete da operação, a sociedade já o enxerga de outro modo. Você não tem ideia. Ele está armado com a pistola dele, não carrega fuzil, mas, é um policial militar normal. O agente civil e o assistente social não usam armas.

SSDPFRJ: Como é o Programa Marcha pela Cidadania e Ordem?

ACS: Esse é o terceiro programa, depois do Segurança Presente e da Lei Seca. É uma caminhada que fazemos, todos os dias, policiais militares, agentes civis e assistentes sociais. Vamos do Leblon ao Leme abordando as pessoas em situação de rua. Fazemos um primeiro atendimento, orientamos, caso a pessoa deseje, encaminhamos para uma casa especializada do município. Mas não faço limpeza social. Trabalho também a questão da ordem pública, que fica em segundo plano, como carros em cima das calçadas, kombis cheias de cadeiras de praia e camelôs. A novidade que eu trouxe foi a Marcha Itinerante. O programa estava muito focado na Zona Sul. Então, levei para outros bairros e regiões como Tijuca, Méier, Grajaú, Caxias, Nova Iguaçu, a Baixada Fluminense inteira. Nesse programa, também coloquei a primeira coordenadora de Marcha feminina, que é uma assistente social sensacional.

SSDPFRJ: O que a sua gestão traz de inovação?

ACS: O que nós trazemos de inovação foi nos moldes do que a PF faz. Estou implantando, agora, no Segurança Presente, pois a Lei Seca já tem, as chamadas body cams. São câmeras que ficam no carro e no colete do policial, então, em qualquer abordagem, tenho visão real. Também estou lançando, através de uma plataforma de uma universidade, a primeira videoaula, em que os policiais que estiverem no programa terão a oportunidade de se capacitar, e quem entrar também terá. Haverá aulas de cidadania, abordagem, direitos humanos e treinamentos físicos, com ensinamentos de jiu-jitsu e segurança pessoal. Passarão por uma reciclagem. O policial tem que obedecer a uma cartilha. No Centro Presente, também tivemos uma iniciativa pioneira ao fazer uma parceria com a Prefeitura. Ela entrou com a Secretaria de Saúde, a Assistência Social e a Guarda Municipal e eu, com a Marcha e o Segurança Presente. Lá, já havia quatro bases: Presidente Vargas, Porto, Largo da Carioca e Praça Tiradentes. Inauguramos a 5ª base, que foi a Praça da Cruz Vermelha. O Segurança Presente também tem Núcleos de Inteligência. Foi através desses núcleos e, com a ajuda dos moradores de rua, que conseguimos identificar a modelo Eloisa Fontes que estava desaparecida há um ano e, depois, localizamos a mãe dela. Assim, geramos noticiário positivo para o governo.

SSDPFRJ: Qual seu balanço desses seis meses de casa?

ACS: Eu reestruturei toda a Lei Seca. Hoje, é modelo para o Brasil. Fazemos treinamento para o pais inteiro, indo até a Colômbia, inclusive. Nós nos preparamos para isso. Temos um protocolo de saúde na pandemia que obedecemos com o distanciamento. Mudamos toda a abordagem da lei. Fizemos a mesma coisa quando eu estava no Detran. Ficou um órgão completamente focado na questão de educação no trânsito. Hoje, a Lei Seca anda com o Detran, a Guarda Municipal e Secretaria de Saúde. Fiz questão de fazer essa integração entre os órgãos. Tenho muito orgulho também do trabalho que fazemos no Lapa Presente. É uma região atípica. O trabalho é todo feito à noite e de madrugada. A formação dos policiais, agentes e assistentes sociais tem que ser diferente, porque o pessoal que frequenta a região é muito diverso. Tem população LGBT, público homofóbico, então precisa de cuidado no trato. Também estendemos mais o Segurança Presente para Itaguaí, Magé e Piabetá, que são áreas difíceis.

SSDPFRJ: Como seus 32 anos na PF o ajudam hoje na subsecretaria? Como se deu o convite para atuar no governo?

ACS: A Polícia Federal me deu disciplina. Ela, hoje, para mim, é fundamental. É tudo aquilo que aprendi, e a Polícia sempre foi muito rigorosa em relação a atos disciplinares, a documentação, que eu trago para cá. Isso faz diferença. Não tem jeito. Essa visão de país é completamente diferente. Tudo que eu tenho na minha vida eu devo à Polícia Federal. Indiretamente, devo ao cidadão, porque é ele quem paga os impostos. Hoje, retribuo aquilo que me deram prestando um bom serviço. Mas sempre procurei me especializar, adquirir experiência. Escrevi um livro sobre parceria público-privado sobre o sistema prisional, fui professor universitário de direito tributário na Universidade Cândido Mendes, eu me preparei. A gente vai construindo. Esse é o segredo. O policial não pode se acomodar. Tem que enxergar à frente. Não estou aqui para servir de exemplo para ninguém. Construí um bom currículo. Tiveram confiança em mim e enxergaram meu potencial pelo trabalho que realizei no Detran.

SSDPFRJ: Teve algum momento marcante na PF?

ACS: Fiz a segurança de dignitários e trabalhei com a Princesa Diana e o Príncipe Charles, fiquei amigo do Mandela, mas me impressionei mesmo foi com o Papa João Paulo II. Ele era um homem diferente. Eu estava com um colega fazendo a segurança dele durante uma missa na Catedral Metropolitana. Estávamos de costas para o altar. Em determinado momento, me virei na hora da Eucaristia. Vimos uma luz saindo de trás dele, vindo do chão. Entendi como uma concentração de energia que as pessoas estavam projetando sobre ele. Mas isso me marcou. Nunca me esqueci. Depois, um fotógrafo do Exército conseguiu me encontrar, e me entregou uma foto incrível do exato momento em que o Papa me dava a bênção. É história que você conta dentro da Polícia.

SSDPFRJ: Diga-me algo que não sei.

ACS: Quero muito transformar o Segurança Presente em um programa permanente e estendê-lo para todo o Brasil. Já estou preparando uma apresentação para o governador de São Paulo e do Maranhão, que querem conhecê-lo. Então, se eu levar essa franquia, vou achar fantástico.

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