O antídoto para o mecanismo

29 de maio de 2018

A nova série do cineasta José Padilha (Narcos, Tropa de Elite 1 e 2), “O Mecanismo” causou rebuliço ao contar a história da Operação Lava Jato, o que acabou mexendo com um assunto delicado, a corrupção na política. Com elenco protagonizado pelo ator Selton Mello (delegado Marco Ruffo), a série retrata nomes de peso do noticiário de política nacional, como o ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, o ex-presidente Lula e o doleiro Alberto Youssef, interpretados sem a menor intenção de disfarçar o objetivo de ser cópia da realidade, apesar de cada episódio começar com a mensagem “este programa é uma obra de ficção inspirada livremente em eventos reais. Personagens, situações e outros elementos foram adaptados para efeito dramático.” 
 
Com efeito dramático ou não, a ideia do produtor parece ser a de que “O Mecanismo” retrate a Operação Lava Jato para o espectador.  Porém, a inverossimilhança, vale dizer, a total falta de compromisso com a realidade na abordagem entre as funções exercidas pelos servidores dos cargos que integram a carreira da Polícia Federal é fatídica.
 
 Por isso, o antídoto para se construir uma obra de ficção que não influencie as pessoas é dada pelo cineasta Cavi Borges, ganhador de cinco kikitos no Festival de Gramado com o filme “O Riscado” e “Cidade de Deus – 10 Anos” que foi selecionado para o Festival de Cannes 2012. 
Cavi acredita que a preocupação com a verossimilhança é importante. “A questão é bem complicada, apesar de ser uma obra de ficção. Se não houver verossimilhança acaba-se criando outra verdade”, explica.
 
O diretor de comunicação do SSDPFRJ, o APF Alexandre Guerra, diz que ficou desanimado com a série ao perceber que a função de um Agente Federal, que é de extrema importância, está sendo retratada e exercida, na série, por um delegado, que possui outras funções na PF, igualmente importantes, mais ligadas á parte burocrática da investigação.
 

O presidente do SSDPFRJ, Luiz Carlos Cavalcante, se incomodou com o modo como a série retrata a estrutura da PF. “A Polícia Federal está lá representada, e a categoria verificou incongruências com o que, de fato, são atividades da profissão. A estrutura dos cargos da Polícia Federal está retratada de forma equivocada. Os cinco cargos que integram a carreira da Polícia Federal (Agentes, Escrivães, Papiloscopistas, Peritos e Delegados) exercem idêntico protagonismo no trabalho de investigação. Sendo que no Brasil, a burocracia do Inquérito Policial, na maioria das vezes, cria uma barreira para que delegados e escrivães possam exercer funções mais operacionais no dia a dia, embora possuam formação policial idêntica às dos outros cargos. Mas é certo que o êxito da lava jato se deve ao trabalho de equipe policial, inserido no sistema de força tarefa com o Ministério Público e outros Órgãos de controle. A “Super tira” que no seriado é uma delegada, na vida real, seria uma equipe, com Agentes, Escrivães e Papiloscopistas, fazendo a parte operacional, escutas telefônicas, elaborando relatórios circuntanciados e a formalização dos atos de investigação, etc, Peritos e Papiloscopistas fazendo a análise pericial do material e delegados responsáveis pelos Inquéritos, realização de interrogatórios e formalização dos procedimentos e documentos resultantes do Trabalho investigatório, a ser encaminhado ao Ministério Público e Justiça. Por esta razão, a categoria se sente injustiçada, pela forma que a produção do “Mecanismo” retratou o trabalho interno da PF”, afirma.

 

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