Os servidores da área de Segurança Pública estão descontentes com as medidas de contingenciamento propostas pelo presidente Michel Temer, que incluem congelamento de salários, aumento da alíquota previdenciária e a redução de verbas destinadas a instituições policiais. Em protesto realizado última sexta-feira, cerca de 150 policiais denunciavam, com faixas e discursos em carro de som, a redução das despesas como tentativa de cercear a atuação da Polícia Federal (PF) em investigações sobre corrupção cometida por políticos e governantes. No dia 15 de agosto, o governo anunciou revisão na meta fiscal para 2017 e 2018, prevendo um rombo maior no déficit do que o esperado. Por isso, determinou congelamento de 12 meses no reajuste dos servidores do Executivo federal. Também define teto salarial de R$ 33,7 mil para o funcionalismo, extinção de 60 mil cargos vagos, aumento de 11% para até 14% na contribuição previdenciária dos servidores, fim do auxílio-moradia em quatro anos, redução do auxílio-transferência, diminuição dos salários iniciais de todas as categorias de serviço público e alteração de diversos tributos. Caso as propostas sejam aprovadas pelo Congresso e pelo Senado, os policiais federais não receberão o reajuste previsto, terão sua contribuição previdenciária ampliada e extintos cargos atualmente vagos. Segundo o presidente do Sindicato dos Policias Federais do Rio Grande do Sul (Sinpef-RS), Ubiratan Sanderson, 50% das vagas da PF estão ociosas. “Nos desdobramos para fazer o trabalho que fazemos. Esses ataques têm relação direta com a atuação da PF. A única pedra no sapato dos governos e dos políticos corruptos são os policiais federais”, destaca. Sanderson considera as medidas como um complô para reduzir a atuação da Operação Lava Jato. “Não vamos parar. Trabalhamos em nosso nome e em nome da população brasileira, e assim continuaremos fazendo. Queremos que a sociedade venha conosco dar um basta a essa estratégia calculista contra quem está combatendo a corrupção”, destaca. O policial recorda a conversa gravada entre o então ministro do Planejamento do governo Temer, Romero Jucá, com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, sugerindo a criação de um pacto para “estancar a sangria da Lava Jato”. Em nota assinada em conjunto por policiais da PF, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Polícia Civil (PC), da Receita Federal (RF), agentes penitenciários e peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) e divulgada no dia 18 de agosto, os servidores defendem que não pode recair sobre esses profissionais “a responsabilidade dos prejuízos decorrentes da farra com o dinheiro público e do mau gerenciamento de verbas”. Enfatizam que R$ 143 bilhões são jogados no lixo por fraudes na Previdência e que R$ 543 bilhões estão prestes a serem perdoados a devedores do fisco por meio do novo Programa Especial de Regularização Tributária, conhecido como Refis. O presidente do Sindicato dos Inspetores, Escrivães e Investigadores de Polícia (Ugeirm), Isaac Ortiz, ressalta o que chama de “desmonte do serviço público e da segurança pública no Rio Grande do Sul e no Brasil”. Para ele, tanto Temer como o governador do Estado, José Ivo Sartori, estão dilapidando o patrimônio público e, com isso, aumentando a insegurança. “Roubam este País, cortam verbas e não investem na segurança pública.”
Fonte: Jornal do Comércio