A comemoração do feriado do dia 1º de maio como Dia do Trabalhador teve motivação em 1886, quando foi realizada uma manifestação por milhares de trabalhadores nas ruas de Chicago, nos Estados Unidos, que buscava a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Nesse dia teve início uma greve geral nos Estados Unidos. Na sequência dos atos, cinco sindicalistas foram condenados à morte e três condenados à prisão perpétua. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket.
A homenagem a esta data foi repetida pela França, em 1891, quando houve a morte de dez pessoas em uma manifestação de trabalhadores, e pela União Soviética, em 1920. Curiosamente, mesmo a data sendo utilizada por vários países, até hoje o governo dos Estados Unidos se nega a reconhecer o 1º de maio como o Dia do Trabalhador.
O trabalho acompanha o homem desde os primórdios da vida na terra. É a essência da sobrevivência, que durante muito tempo moveu o homem para algo além de si mesmo, fosse ela pessoal ou familiar, individual ou coletiva, sempre resultaria no escambo do suor por algo valioso e digno.
O cantor mineiro diria mais tarde: “sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor”. Em um verso simples encontramos uma aventura poética que brinca de tentar mensurar o trabalho perante o mais profundo sentimento de todos – o amor.
Ao longo do tempo foram várias as formas de se tentar expressar o valor trabalho para o ser humano. Músicas, contos, poesias, peças, filmes e diversas formas de arte e entretenimento incluíram o trabalho como expressão do sentimento humano, a ponto de romper os laços amargos dos tempos de escravidão e convalidar a esperança de que com base no fruto do trabalho honesto, dedicado, disciplinado e persistente se alcança a vitória.
No mundo atual temos assistido uma demasiada predileção pelo capital em detrimento do trabalho, ofendendo toda a principiologia de preservação da essência dignificadora do homem. Max e Durkheim, por exemplo, ainda que com as visões socialista e capitalista da convivência social, política e econômica de um povo, jamais desprezaram a emoção humana como a força motriz da máquina produtiva que sustenta uma nação.
No Brasil, foi no populismo getuliano que essa força motriz mereceu o caloroso abraço do Direito e invadiu as normas pátrias, de forma a consolidar seu patrimônio produtivo na CLT. Mas a lei consolidadora ficou “velha”. As relações trabalhistas ganharam força e ampliaram suas formas e contornos para além da esfera privada, fincando a bandeira da proteção e da solidariedade estatal no solo arenoso do mercado e do capital.
Agora, em 2017, a relação capital-trabalho ganhou novos componentes. As leis que vinculam patrão e empregado na mesma nuvem legislativa estão sendo alvejadas como judeus na repugnante linha de tiro nazista. Passaram a ser ferrugem em uma engrenagem que emperra cada vez que o mercado grita.
As reformas trabalhista e da Previdência são o conjunto mais nefasto de uma nova visão governamental dessa relação. Elas nasceram do que parecia a esquerda brasileira e que, agora misturada a uma espécie de neoliberalismo tupiniquim, foram revestidas por uma manto salvador que pretende diminuir o Estado mínimo, que minimamente cuida da educação, da saúde e da segurança no País.
E o trabalhador brasileiro parece que não acordou. Nem o do âmbito privado, nem do público. É certo que a boa leitura não faz parte do hábito do brasileiro e que a onda de desânimo que assolou o Brasil nos últimos anos foi determinante para que o Governo se apropriasse do momento para fincar sua bandeira reformista.
O papel da classe média e da imprensa também merece um destaque. A primeira parece ter se contentado com o recente “impeachment”, como se o grupo que deixou o Poder fosse o início e o fim de tudo que assolou e ainda assombra a nação brasileira. A segunda, inexplicavelmente, explica (e defende) as reformas a partir da sua suposta – e até compreensível – necessidade, mas sem sequer considerar pontos que visivelmente atingem o trabalhador ou o servidor público. É um fenômeno parecido com a compra de um fogão autolimpante, onde após a instalação não precisa se preocupar com a gordura e as sujeiras impregnantes.
De todo esse rápido e degradante processo de extirpação de direitos, ainda sobrou um pouco de argumento para lançarem culpa às representações dos trabalhadores – os sindicatos, como se a instância defensora do trabalhador fosse, na verdade, a causa de todos os prejuízos e danos à economia brasileira nos últimos anos.
Neste dia do trabalhador, os brasileiros devem dar voz a quem lutou por esse dia, na essência daquilo que quiseram dizer quando colocaram suas vidas em jogo. Preservar os direitos trabalhistas é garantir que o País cresça sem discrepâncias nem distorções, aumentando sua capacidade laboral a partir da valorização do componente humano que compõe a cadeia produtiva. Sem isso, nenhuma nação evolui em sua consciência coletiva, nenhuma economia cria raízes de crescimento permanente e nenhum povo alcança o patamar de dignidade, próprio do chamado primeiro mundo.
“Labore digno quae sera tamen”: trabalho digno antes que seja tarde!
Ao trabalhador policial, nossa homenagem e o nosso respeito por sua escolha!
* Luís Boudens, Presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais
Agência Fenapef