Bruno Requião é um dos criadores da NetCrime, que reúne pesquisadores, policiais e operadores da segurança pública para discutir estrutura e dinâmica do crime e segurança pública; próxima edição ocorre em maio, nos EUA
A segurança pública continua como tema de destaque em 2019. Isso porque, só no primeiro semestre do ano passado, foram registrados mais de 26 mil assassinatos no Brasil. Pensando em soluções e discussão em torno do tema, será realizada, no dia 28 de maio, a NetCrime, um fórum aberto para discutir o papel da Ciência das Redes na compreensão da estrutura e dinâmica do crime.
O evento tem como objetivo reunir pesquisadores, policiais, operadores da segurança pública e defesa como um todo. A primeira edição foi realizada em 2015, na Espanha, e reuniu pesquisadores de diversos campos, incluindo física, matemática, computação, sociologia, criminologia e ciências policiais, discutindo abordagens científicas para compreender e enfrentar a estrutura e dinâmica de atividades criminosas ao redor do mundo.
O policial federal Bruno Requião é um dos criadores da NetCrime. Há nove anos na PF, Bruno vê nessa iniciativa uma oportunidade de avançar na discussão sobre o tema. “O crime se infiltra na estrutura da sociedade provavelmente mais do que qualquer outro problema socioeconômico. A expectativa com o simpósio é de que tenhamos uma maior participação de policiais que possam ajudar a conectar os resultados científicos com a tomada de decisão gerencial”, explica.
Nesse ano, a NetCrime será realizada na cidade de Burlington (EUA), em 28 de maio. Os interessados em participar têm até o dia 6 de março para enviar os artigos de pesquisa sobre o assunto. Mais informações aqui.
Resultados
A NetCrime já rendeu frutos de discussão sobre o tema. Bruno conta que o número de publicações científicas com aplicações de ciências de redes ao fenômeno criminal cresceu de 2010 a 2018 mais de cinco vezes. “Alguns órgãos de segurança e defesa vêm adotando métodos de ciências de redes na formação de seus policiais e em investigações conhecidas. Temos alguns resultados mais técnicos, como a descoberta de que em redes de crime organizado ou facções os grandes líderes não são os responsáveis por manter essas estruturas coesas, mas sim elementos mais especializados como doleiros ou advogados”, relata.
A operação de combate mais conhecida dos brasileiros, a Lava Jato, também teve aplicações no simpósio, que, segundo ele, “mudou a perspectiva do processo investigativo.” E ele cita mais exemplos: “Temos também o resultado recente de que redes de corrupção costumam ter um núcleo com as mesmas oito pessoas, aproximadamente, ou de que há um aumento periódico na robustez dessas redes coincidindo com o período eleitoral, trazendo oportunidades investigativas aos operadores da segurança pública.”
Para ele, outros resultados desmistificam conceitos arraigados na cultura da gestão da segurança pública, mas que se encontram categoricamente equivocados. “Utilizar o índice do número de homicídios a cada 100 mil habitantes para comparar cidades de tamanhos diferentes não faz o menor sentido do ponto de vista das ciências de redes”, afirma Requião.
Autor
Bruno Requião da Cunha é policial federal há nove anos e, atualmente, está cursando pós-doutorado na Universidade de Limerick (Irlanda). É agente com experiência na área de física de sistemas sociais e aplicação da ciência de redes no combate ao crime organizado.
É um dos autores do livro “Ciências Policiais e Segurança Pública”, em parceria com outros policiais federais e de outras polícias. É também autor de diversos artigos científicos, entre eles “Ciências de redes e algumas de suas aplicações no combate ao crime organizado”.
Comunicação Fenapef