ADMIRADA POR MUITOS, MAS DOENTE POR DENTRO

23 de setembro de 2019

No último dia 17, terça feira, mais um policial federal cometeu suicídio, aumentando para 33 o número de policiais federais que tiraram a própria vida nos últimos dez anos. Estudioso, primeiro colocado no seu curso de formação, mestre, doutor, excelente profissional, professor universitário e integrante de um dos órgãos mais admirados pela população brasileira. Uma vida que parecia perfeita, mas que na verdade escondia mais um policial doente. O que o levou a se matar na sede regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro?

Não é uma pergunta cuja resposta seja fácil. Há vários fatores que podem ter concorrido para o trágico desfecho, mas sem medo de errar podem ser citados o péssimo ambiente de trabalho e a ausência de acompanhamento psicológico e psiquiátrico dos policiais. Em estudo realizado por psicólogas da Universidade de Brasília em 2012, a pedido do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal (Sindpol-DF), foram entrevistados centenas de policiais federais da ativa e os números encontrados apresentavam um panorama alarmante.

Segundo relatório apresentado, 50% dos entrevistados apresentaram sintomas de quadro depressivo, 43% relataram desesperança quanto ao futuro, 83% dos agentes se sentiam desvalorizados profissionalmente, 74% sentiam indignação, 46% tinham sentimentos de raiva, 39% de inutilidade, 18% sentiam medo e 21% tinham ideias suicidas. As pesquisadoras concluíram que esses dados eram resultado de um ambiente de trabalho caracterizado pelo assédio moral e terror psicológico, além de “transformar as relações interpessoais no ambiente de trabalho em fontes concretas de destruição da cidadania e dignidade humana”.

Com o objetivo de contribuir para a elaboração de medidas que melhorassem o péssimo quadro apresentado no estudo, os dirigentes do Sindpol-DF apresentaram o relatório para os gestores da Polícia Federal. Porém, segundo os sindicalistas, nada de relevante foi feito desde então, enquanto isso, vidas de policiais são perdidas e famílias destruídas. Uma polícia admirada por muitos, mas doente por dentro. Se não forem adotadas medidas urgentes, o órgão corre o risco de se transformar em um “cemitério de vivos”.

Roberto Uchôa
Escrivão da Polícia Federal RJ

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