Alexandre Fraga

18 de outubro de 2018

APF aposentado e escritor, Alexandre Fraga, estreia nesta sexta (19/10) série sobre narcotráfico na Fox

Quando ele fala do gosto pela leitura, como escritor e roteirista, o agente de polícia federal (APF) aposentado, Alexandre Fraga, 45 anos, está se referindo aos talentos que herdou da mãe para a escrita e que encontraram no avô materno um incentivo de respeito. O que tem feito o APF escrever é a credibilidade, ou seja, a “moral” que as publicações literárias lhe dão, como ele mesmo diz. O que ele quer é ver suas histórias encenadas na tela. O jeito esquentado, marrento, confiante e raçudo, lapidado pelos monges do Colégio São Bento e calejado pelas inúmeras brigas em que se envolveu nas ruas tijucanas, quando ainda era só um garoto, está longe de representar o APF corajoso e destemido que ingressou na PF, em 1995, órgão onde trabalhou por cerca de 20 anos, na maior parte do tempo na delegacia de entorpecentes.

No decorrer da entrevista, o leitor vai conhecer melhor o escritor e roteirista Alexandre, ou Zé, de Alexandre José, como é chamado pelos amigos. O morador do Leblon, devoto de Nossa Senhora, frequentador da praia, bom de copo e de papo, peladeiro que se formou em Direito na UFRJ e cursou cinema, mas não terminou, também tem dois filhos: Maria Luiza, 3 anos, e José Artur, 5 anos, é casado há 14 anos com a engenheira Luciana e autor dos livros, “Quando os demônios vão ao confessionário (2002)”, “Canibal de Copacabana (2008)”, e do conto “Canibal de Ipanema”, da coletânea Rio Noir, mas o livro que despontou foi “Oeste: a guerra do jogo do bicho (2014)”.

SSDPFRJ: Algumas notícias que saíram na imprensa sobre Impuros não associam a série ao seu nome. Porque isso aconteceu?

Fraga: Tivemos uma negociação muito dura porque há uma tradição na indústria audiovisual brasileira, que eu não concordo, que são os valores pagos aos criadores. No mundo inteiro, 5% do orçamento tem que ser do criador. Mas no fim, chegamos a um acordo e todos nós saímos felizes. Na Fox, eu trabalho por contrato. E, por contrato, meu nome tem que aparecer nos créditos, na exibição da série na TV, mas pode ser omitido em matérias na imprensa. Sou o criador da série e roteirista do piloto. A primeira temporada já está finalizada e estreia em outubro em cerca de 50 países. Já assinamos contrato para desenvolver a 2ª temporada que também terá dez episódios. Nessa, eu devo ser o roteirista dos episódios.

SSDPFRJ: Do que trata a série? Como você chegou a Fox?

Fraga: É uma série sobre a guerra do narcotráfico nos anos 90 e a nossa pretensão é construir temporadas até chegar aos dias de hoje. Sugeri o ator André Gonçalves e ele brilhou. Mas tem também a Fernanda Machado, Sergio Malheiros, Leandro Firmino, Rui Ricardo Diaz, Raphael Logan, entre outros. Esse mercado de séries é muito disputado. Por exemplo, a Fox recebeu entre 500 e 700 projetos e ela só ia aprovar um ou dois. Ela anuncia isso todo ano na América Latina. Mas o Zico Góes, diretor internacional da Fox, falou que o texto de Impuros é um dos melhores que a empresa já recebeu. Eu cheguei pelos meus intermediários que são a Caravela Filmes e Barry Company.

SSDPFRJ: Não teve receio dessa temática das drogas já estar saturada para o público? O que a série vai apresentar de novidade?

Fraga: É um olhar muito particular e privilegiado, por eu ser policial, de alguém que entrou muito novo na PF com 22 anos. Eu me vi mergulhado no narcotráfico, na fronteira, em Rondônia, nos anos 90. São histórias originais que atravessam os limites de vários países como Paraguai, Colômbia e Bolívia. A pretensão foi colocar muita realidade e falar das muitas guerras que aconteceram tanto do lado da polícia quanto do lado do narcotráfico. Os personagens centrais são um policial e um traficante, ambos amantes de guerra.

SSDPFRJ: Você tem três livros lançados. Já foi anunciado que o mais recente, Oeste: a guerra do jogo do bicho (o livro é um retrato ficcional de um momento, fim dos anos 90, de transição do jogo do bicho para as máquinas caça-níqueis), de 2014, vai virar filme e série na Globo, com direção de Vinícius Coimbra. Como ocorreu esse processo?

Fraga: Oeste nasceu como roteiro. Eu cheguei a negociá-lo com o (cineasta) José Padilha (Tropa de Elite, Narcos) e o (sócio do Padilha) Marcos Prado, mas foi uma negociação muito difícil e eu não gostei dos termos e do comportamento à mesa de negociação. Então, voltei pro mercado editorial por ideia da minha esposa. Apresentei a história ao Sérgio França, gerente editorial da Editora Record. Eles já me namoravam porque tive boas críticas do meu livro anterior, Canibal de Copacabana. Com Oeste, eu ganhei dinheiro. Porque é difícil ganhar dinheiro com livro no Brasil. Se você estiver colado com o audiovisual é mais fácil.

SSDPFRJ: E como Oeste chega à Rede Globo?

Fraga: Eu frequento uma loja no Leblon onde eu faço cópias das coisas que eu escrevo porque não me dou bem com impressoras. O dono, que é meu amigo, certo dia, perguntou se eu tinha outra atividade além de ser policial. Disse que era escritor. Ele me falou que a filha dele (Priscila Steinman) era atriz e roteirista da Rede Globo e era casada com um diretor de lá (Vinícius Coimbra). Foi ele quem armou o encontro. Eu tinha vendido os direitos do livro pro Bruno Wainer, da Downtown Filmes. Depois, a Globo Filmes se interessou e comprou o negócio. O Vinícius foi chamado pra integrar o projeto e eu sou o roteirista dos dois produtos junto com ele. O filme sai antes da série e deve ser no segundo semestre do ano que vem. Vamos rodar em janeiro e fevereiro. O título provisório é Cabeça de Leão. Rômulo Estrela (ator) vai fazer o personagem inspirado em (contraventor e sobrinho de Castor de Andrade) Rogério de Andrade.

SSDPFRJ: Muito já saiu na imprensa sobre Oeste. O que mais você pode falar sobre o livro?

Fraga: Oeste é derivado de uma investigação em cima da contravenção por conta do homicídio de um policial federal. Eu participei dessa investigação. O cara era meu amigo, chamava-se Aluizio Pereira e foi morto por engano. A história do livro se passa entre 96 e 2012. Participei da operação que prendeu o Rogério de Andrade, só que a prisão é uma parte ínfima da história. Foi um trabalho em equipe. Fui o relator. Assinei com o agente especial Armando Guedes, que hoje é defensor público da União.

SSDPFRJ: Como é sua relação com a Rede Globo?

Fraga: Recebi um convite quando eu tinha 26 anos. Mas eu era muito agarrado a PF. E queria escrever de casa. Então, não aconteceu. Mas o contato se deu pelo (ator) Milton Gonçalves que conhecia meu chefe na delegacia em que eu trabalhava em Nova Iguaçu. Ele procurava por um policial que já tivesse passado por fronteira e tivesse experiência em operações para escrever um caso especial. Na época, eu tinha um argumento de 15 páginas do que viria a ser o meu primeiro livro Quando os demônios vão ao confessionário. Ele leu e me chamou pra ir pra Globo. Foi o primeiro cara a apostar em mim. Hoje, a questão é que a Globo quer exclusividade e eu estou dedicado à minha série na Fox.

SERVIÇO

O que: série Impuros
Canal: Fox Premium
Data: 19 de outubro (sexta)
Horário: 22h

( Crédito: Divulgação)

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