“Modelo de investigação brasileiro é caótico”, afirma representante dos policiais federais

18 de maio de 2018

A luz vermelha acendeu após a morte de dois policiais federais nas últimas semanas; presidente da Fenapef cobra modelo mais eficiente de investigação

Nas primeiras duas semanas de maio, dois policiais federais foram mortos por assaltantes que invadiram suas casas. Davi Farias Aragão e Mauro Sérgio Abdo são apenas mais duas vítimas da violência no Brasil, que matou 60 mil pessoas no ano passado, e do modelo de segurança pública que estimula a impunidade.

“O assaltante já tinha cinco passagens pela polícia e mesmo assim recebe a concessão do indulto. Isso deveria ser apenas para presos sem periculosidade”, defende o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Luís Antônio Boudens, sobre o caso do policial morto em São Paulo, na última segunda-feira (14).

Para Boudens, é urgente a mudança no modelo de investigação e de prevenção de crimes. “O nosso modelo é extremamente burocrático. Há várias investigações paradas na polícia”, disse, em entrevista à Jovem Pan nessa terça (15). “Esse vazio que temos entre o tempo que demora a investigação e a falta de efetividade dela, principalmente nesses assaltos com violência, à mão armada, e que levam ao homicídio, isso precisa ser mudado urgentemente. A nossa polícia está afogada em burocracia”, definiu.

O presidente da entidade, agente da PF desde 1996, defende o ciclo completo de polícia e a criação de áreas próprias para investigação, sem monopolização. Para ele, é importante que haja investimento no setor. “Em um país com índices de violência tão altos, não deveria se economizar tanto em segurança pública”.

Carreira única

A reestruturação da carreira policial é uma das demandas da Federação, que tem 14 mil associados. “A carreira única é modelo de eficiência em vários países em que a segurança pública é referência. O FBI é um exemplo. É uma medida que promove mais união interna, eficiência e autonomia para a Polícia Federal, e ainda diminui substancialmente os custos para a administração pública”, explica.

O porta-voz também explica o porquê de os profissionais de segurança defenderem a adoção do ciclo completo de polícia como ferramenta para melhorar os índices de elucidação de crimes. “Duas polícias separadas não funcionam com a mesma eficiência de uma polícia integrada. Essa é uma questão que impede nosso modelo de investigação de avançar. Além disso, também é preciso considerar o gasto público para manter estruturas de polícia com naturezas diferentes. Esse dinheiro deveria estar sendo aplicado em modernização”.

Outra demanda dos policiais é a indenização por atividade de risco a profissionais da segurança pública. Em abril, o projeto de lei 5.492/2016 passou pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público no Congresso Nacional e aguarda mais duas comissões para que seja aprovado. O PL prevê que policiais federais, civis e militares, bombeiros, agentes penitenciários, policiais legislativos federais, agentes socioeducativos, agentes de trânsito e guardas municipais recebam o mínimo de 30% da remuneração total por exercerem atividade de risco, preservando a paridade com os aposentados.

“A importância dessa medida é que vai resguardar também as famílias desses profissionais, que sofrem indiretamente com a insalubridade e os riscos vividos no ambiente de trabalho”, ressalta Boudens.

Fonte: Fenapef

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