Milícias estão por trás da onda de assaltos em Niterói, diz vereador

21 de maio de 2018

O policial federal e vereador Sandro Araújo (PPS), 47 anos, afirma que grupos paramilitares estão por trás da onda de assaltos que tomou Niterói recentemente: “Trata-se de uma ação orquestrada para causar terror à população”. Ameaçado quase que diariamente pelas redes sociais, pelo celular e pelos telefones fixos de seu gabinete, por conta de suas denúncias, Araújo cobra uma atuação mais incisiva do poder público para coibir a atuação da milícia na região, que, segundo ele, cobra  taxas de segurança em diversos estabelecimentos comerciais da cidade, incluindo escolas e supermercados. Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, ele diz que um dos problemas é o descompasso entre as atuações das secretarias de Gestão e Segurança e de Ordem Pública.

Diante de sua experiência como policial federal, ao que se deve essa onda de assaltos na cidade de Niterói? Quais os locais mais visados? 

Seguramente trata-se de uma ação orquestrada para causar terror à população. Nenhum criminoso do mundo assaltaria pessoas ou estabelecimentos usando fuzis para obter celulares e alguns trocados. Não tenho dúvida de que se trata de uma ação que visa à implantação de grupos que, em princípio, oferecem segurança privada para, em seguida, tornar a população refém. Os bairros da Zona Sul e da Região Oceânica têm sido os principais alvos desses grupos. A Zona Norte já sofre há anos com a violência de bandos armados. 

Que história é essa de roubos de celular com fuzis pelas ruas da cidade? Como tem sido esse cotidiano? 

É o que tem acontecido aqui. Foi o caso de um assalto a um quiosque na Boa Viagem, por exemplo. Os caras entram de fuzil e vão roubar quem tem celular. As lanchonetes operam, em sua maioria, com cartão de crédito. Ou seja, há meia dúzia de trocados lá. Quer dizer, não bate, porque, para formarem uma equipe com fuzil e dois indivíduos de pistola, lá se vão pelo menos R$ 30 mil. Para ele conseguir uma quantidade suficiente de celulares que atinja esse valor, não é fácil. É o tipo do crime que tem toda uma demanda logística. Enquanto isso, há também uma ausência dos agentes públicos, por falta de condições logísticas. Não é má vontade dos agentes para combater. Trata-se da falta de condições. 

Niterói era considerada um reduto privilegiado, por não registrar a atuação de grupos paramilitares. Na sua opinião, em que momento isso mudou?

O problema é que os agentes públicos (milicianos) percebem que a cidade tem um alto Índice de Desenvolvimento Humano e é um local propício para o estabelecimento desses grupos paramilitares para exploração de serviços. Na Região Oceânica da cidade, inclusive,  já temos a clara evidência da milícia atuando, porque se percebe que o cara só consegue comprar um determinado gás, só pode instalar uma certa internet, só pode usar uma certa TV por assinatura. Quem não aderir é retaliado com certa brutalidade. Isso na Região Oceânica. Principalmente na área da Avenida Central e do Engenho do Mato. Sem falar que cobram segurança das escolas e dos estabelecimentos. Tem sido cobrada segurança de tudo. Para poder funcionar, as escolas particulares têm de pagar. Só não estão pagando porque eu assumi essa demanda. Estavam prestes a pagar, mas eu conversei com os diretores. Inclusive, metralharam um supermercado cujo dono também aconselhei a não pagar. Ele até ficou um pouco chateado comigo. 

Diante deste contexto de crescimento de grupos paramilitares na região, como vê a gestão da segurança pública em Niterói? 

Na minha opinião, temos um gestor de segurança pública aqui, o coronel Paulo Henrique, ex-comandante do Bope, um dos indivíduos que mais entendem de polícia que eu conheço. Ele é o secretário do gabinete de Gestão e Segurança. Há também a ingerência do Centro Integrado de Segurança Pública de Niterói (CISP), que tem trabalhado muito para melhorar ainda mais o CISP. Mas, em relação à Secretaria de Ordem Pública, a cidade merece algo mais moderno do que esta gestão de segurança. Acredito que o prefeito tem que ter olhos para mudar isso, para melhorar. O objetivo do Executivo deve ser sempre melhorar a visão que a população tem de suas pastas e o que cada uma delas produz de forma efetiva. Então, a gente tem uma dicotomia que é o coronel Paulo Henrique, trabalhando de forma a tentar visualizar as estatísticas e cumprir planos de médio e longo prazo, e a Secretaria de Ordem Pública, totalmente em descompasso com isso. 

Como funciona o projeto “Niterói Mais Seguro” (celebrado por um convênio entre a Prefeitura de Niterói e o governo do estado, bancado pela administração municipal)? Não seria um reforço importante para o policiamento na cidade? 

É uma iniciativa boa, mas muito complexa no que diz respeito ao horário de funcionamento. Como funciona mais ou menos no mesmo ritmo do Programa Estadual de Integração na Segurança, (Proeis), medida que permite aos policiais militares trabalharem voluntariamente em seu horário de folga mediante gratificação, a cidade contratou agentes que trabalham em equipes formadas por três homens. São dois PMs que já atuavam no Proeis e, agora, usam a braçadeira do “Niterói Mais Seguro” ou “Icaraí mais seguro”. Esses caras escolhem seu horário de trabalho, geralmente o turno da tarde. Como são voluntários, não querem ficar de noite na rua, o que gera um déficit de segurança no período noturno. E segurança só em horário comercial não existe em lugar nenhum do mundo. Esses assaltos que aconteceram em Niterói, Icaraí, São Francisco e Região Oceânica ocorreram durante a noite.  O 12º Batalhão da Polícia Militar (Niterói) tem sérias dificuldades de logística, de equipamentos, de viaturas e material humano — há muita gente de licença médica. É uma iniciativa que seria bacana se operasse 24 horas por dia.

Fonte: Jornal JB

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